Durante o período de 10 a 15 de abril a Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) esteve realizando ações no município de Medicilândia (PA), maior produtor de cacau do Brasil, iniciando a partir da Estação Experimental do km 100, a intensificação do trabalho de alerta preventivo sobre a severa doença monilíase que ataca os frutos do cacau com capacidade de dizimar produções de lavouras inteiras. O pesquisador e fitopatologista da Ceplac, Paulo Albuquerque, da capital do estado (Belém), liderou o grupo de profissionais imbuídos em conscientizar os produtores e sociedade em geral do grave problema que a doença poderia causar a região cacaueira, e sobre a importância de se tomar alguns cuidados, como por exemple, evitar transportar frutos, sementes ou mudas de plantas oriundas dos municípios onde já há a presença da monilíase, no estado do Acre e no estado do Amazonas.
Fitopatologista da Ceplac, Paulo Albuquerque
“A monilíase é uma doença de um impacto muito grande. O impacto direto é aquela perda direta que o produtor já vai ter. Ela causa podridão do fruto e uma vez que ela se instala, o dano ela causa somente nos frutos, que é onde está o capital, ou seja, é o impacto direto sobre a produção. Quando não controlada ela pode causar cem por cento da perda da produção. Mas também tem o impacto indireto, é que um vez que essa doença entrar no estado do Pará, nós vamos ter dificuldade de sair com as amêndoas do estado do Pará para outros estados. Hoje setenta por cento do cacau paraense é processado na Bahia e uma vez que essa doença chegar aqui ao estado, por força de lei as divisas do estado serão fechadas e nós não vamos poder sair com esse cacau para ser processado na Bahia. Então o produtor num primeiro momento não vai poder comercializar essa amêndoa por falta de destino. Nós vamos ter condições de reverter isso aí, mas em geral levaria alguns meses ou até ano”, disse o fitopatologista da Ceplac, Paulo Albuquerque.
Veja no vídeo abaixo a entrevista com o especialista esclarecendo mais sobre a monilíase:
Segundo publicação do Ministério da Agricultura e Pecuária, a monilíase é uma doença muito grave que ataca os frutos do cacaueiro e do cupuaçuzeiro em qualquer fase de desenvolvimento, podendo causar perdas de até 100% da produção. Causada pelo fungo Moniliophthora roreri, a monilíase está presente todos os países produtores de cacau da América Latina, e no Brasil a doença ainda é considerada quarentenária, apesar de recentes focos da monilíase terem surgidos no Acre e no Amazonas, colocando o Brasil em alerta.
Albuquerque também orienta sobre os cuidados a serem tomados. “O produtor deve se manter vigilante. Hoje por força de decreto não se pode comercializar frutos de cupuaçu e de cacau oriundos do Amazonas ou amêndoas de cacau oriundas do estado do Amazônas para o estado do Pará. O produtor tem que ficar em alerta com relação a isso e não trazer material vegetal quer seja do estado do Amazônas, quer seja do Acre, para o estado do Pará. E o produtor também tem que ter a atenção para não estar comprando material de propagação também dessas regiões. Muitas vezes o pessoal chega lá e vê um fruto de cacau e acaba trazendo para plantar. Não faça isso, não traga hastes para enxertia, não traga sementes dessas regiões onde existe a monilíase”, alertou.
Ação da monilíase no cupu
Nas regiões onde a monilíase se instalou, a sua ação tornou-se mais destrutiva do que a causada pela vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa), doença que provocou uma catástrofe na Região Cacaueira do Sul da Bahia, eliminando mais de 250 mil empregos diretos e reduzindo a produção de cacau a 25%.
Ataca apenas os frutos
É imprescindível que todos da cadeia produtiva do cacau tenham o conhecimento e a compreensão do risco que essa praga representa e das ações para sua prevenção, contribuindo para as boas práticas de biossegurança.
“Independente de todas essas situações que ocorre a Ceplac ela não vai se afastar em nenhum momento do produtor, quer seja nos momentos felizes onde a gente chega aí como o primeiro produtor de cacau do Brasil, quer seja numa situação dessa, grave, como é a questão da ameaça da monilíase. Mas vale ressaltar que a doença ainda está bem longe do estado do Pará, e trabalhos de contenção estão sendo feitos na região onde a monilíase está para que ela não chegue aqui. Nós não temos essa doença aqui e esperamos por muitos anos que ela não chegue ao estado do Pará. Mas a prevenção é o melhor remédio e o produtor tem que ficar em alerta. Em caso de suspeita que essa doença está presente na sua propriedade, o produtor não deve mexer naquele fruto e deve deixar o fruto onde ele está, e em seguida deve procurar um técnico especialista nessa área, na Adepará ou na Ceplac”, finalizou o pesquisador.
Fruto de cacau do Peru com monilíase
Com procedimentos e ações de todos unidos, pode ser possível eliminar ou minimizar os riscos de entrada da praga no estado do Pará.