Darci Alves Pereira, réu confesso, condenado em 1990 a 19 anos de prisão pelo assassinato de Chico Mendes, é o novo presidente do Partido Liberal (PL) de Medicilândia (PA). Pereira tomou posse no final de janeiro. PL é o partido do inelegível ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo consta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a composição da nova diretoria do PL em Medicilândia foi formalizada na Justiça Eleitoral em 27 de novembro de 2023.
A cerimônia de posse, no entanto, aconteceu somente no dia 26 de janeiro de 2024. O evento, realizado na Câmara de Vereadores da cidade, contou com a presença do deputado estadual Rogério Barra, secretário-executivo do PL no estado do Pará e de quem Darci Alves Pereira é afilhado político.
Ainda não há informações detalhadas sobre os planos do partido para o cargo majoritário no pleito municipal de 2024. Nas redes, Pereira se apresenta como “pré-candidato a vereador”.
Nova vida vive Darci
Darci Alves Pereira se estabeleceu em Medicilândia após cumprir parte da pena pelo assassinato do líder sindicalista, na década de 1990. Na cidade, porém, nem todos o conhecem pelo nome de batismo.
“Em Medicilândia não é todo mundo que sabe que ele é o Darci que matou o Chico Mendes, pra você ter uma ideia. Ele utiliza outro nome, a gente conhece ele por Daniel”, disse uma moradora, que preferiu se manter no anonimato, por receio de represálias.
Segundo a moradora, Darci Alves Pereira, ou “Daniel”, é considerado um cidadão de bem no município e região. “Ele é uma pessoa que todo mundo conhece e respeita muito […] Ele é conhecido por ser um líder na comunidade, por doar dinheiro pra igreja, doar dinheiro para os mais necessitados, é um bom pai, é um bom esposo. É isso o que a comunidade fala”, explicou.
De acordo com ela, os “mais poderosos” sabem do passado de Darci, mas isso não o deprecia. Pelo contrário, diz. “Ele não carrega a alcunha do assassino do Chico Mendes. Do ponto de vista das pessoas daqui, ele é como se fosse um herói. Essa é a narrativa usada, ele é a pessoa que conseguiu matar o cara que estava travando o desenvolvimento.”
Convertido à igreja evangélica há alguns anos, Darci Alves atualmente se apresenta como “Pastor Daniel” e atua na Assembleia de Deus da Última Hora.
Assim como fazia sua família no Acre antes do crime, Darci mantém em Medicilândia uma fazenda produtora de cacau e gado.
Assassinato
Chico Mendes tinha 44 anos quando foi morto com um tiro no peito, em 22 de dezembro de 1988, no quintal de sua casa, em Xapuri (AC). Dois anos depois, em um contexto de forte pressão nacional e internacional pela elucidação do caso, Darci Alves Pereira se entregou à polícia.
Ele confessou o crime em diferentes ocasiões, inclusive diante do Tribunal do Júri de Xapuri, no dia 12 de dezembro de 1990 (Veja vídeo abaixo, em 3´35´´). Seis anos depois, Darci mudou sua versão novamente e negou ter cometido o crime, conforme reportou o jornal Folha de S.Paulo, à época.
No dia 15 de dezembro de 1990, Darci Alves Pereira e seu pai, Darly Alves da Silva, foram condenados a 19 anos de prisão, por serem, segundo a Justiça, executor e mandante do crime, respectivamente.
Presos inicialmente na penitenciária Francisco de Oliveira Conde, em Rio Branco (AC), pai e filho fugiram da cadeia em dezembro de 1993 e passaram três anos foragidos.
Eles foram recapturados pela Polícia Federal em 1996 – o pai em Medicilândia (PA) e o filho no noroeste paranaense – e levados para o complexo penitenciário de segurança máxima da Papuda, em Brasília.
Três anos depois, Darly alegou problemas de saúde e conquistou o direito de cumprir sua pena em prisão domiciliar. Darci, por sua vez, foi para o regime semi-aberto, por bom comportamento.
Chico Mendes
Chico Mendes nasceu em Xapuri, no seringal Porto Rico, no dia 15 de dezembro de 1944. Seringueiro, sindicalista e ativista político, ele lutou a favor dos seringueiros da Bacia Amazônica, cuja subsistência dependia da preservação da floresta e das seringueiras nativas.
Chico Mendes
Um de seus principais legados foi a ideia, então considerada revolucionária, da criação de reservas extrativistas, algo que só foi formalmente criado após a morte do sindicalista.
Seu ativismo lhe trouxe reconhecimento internacional, ao mesmo tempo que provocou a ira dos grandes fazendeiros locais. Entre 1987 e 1988, Chico Mendes foi premiado por sua atuação, recebendo o Global 500, da Organização das Nações Unidas (ONU), na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society.
Passados 36 anos de sua morte, Chico Mendes ainda se mantém como símbolo da luta pela preservação da Amazônia.
Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, foi assassinado com um tiro de escopeta em 22 de dezembro de 1988. Nascido em Xapuri, no Acre, Chico Mendes tornou-se reconhecido por seu trabalho em defesa do meio ambiente.
Os responsáveis por sua morte foram o fazendeiro Darly Alves da Silva e o filho, Darci Alves Ferreira, condenados a 19 anos de prisão em 1990. Após uma fuga da prisão em 1993, ambos foram recapturados em 1996.
Darly Alves foi liberado da prisão em 1999 para cumprir o restante de sua pena em regime domiciliar. No mesmo ano, Darci obteve o benefício de cumprir o restante da pena em regime semiaberto.
O que diz o presidente do PL
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que “não tinha conhecimento” de que Darci Alves Pereira, que assumiu a presidência do partido no município de Medicilândia, no Pará, foi condenado pelo assassinato do ambientalista Chico Mendes.
“Diante dessas circunstâncias, recomendei ao presidente da estadual do PL do Pará, deputado Éder Mauro, a imediata destituição de Derci Alves Pereira do cargo, conhecido atualmente como "Pastor Daniel”, disse Voldemar, em nota.
Darci foi empossado no comando do diretório municipal em 26 de janeiro, em evento na Câmara dos Vereadores de Medicilândia, com a presença do deputado estadual Rogério Barra (PL-PA), secretário-especial do partido no estado.
Na tarde desta quarta-feira (28), o PL informou que ele foi destituído do cargo.
Com informações dos portais; O Eco e O Tempo